Racismo no Sítio do Picapau Amarelo?

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O Conselho Nacional de Educação censurou o livro Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, alegando que o mesmo possui conteúdo racista. Conforme o parecer do CNE, o racismo estaria na abordagem da personagem Tia Nastácia e de animais como o urubu e o macaco, em trechos da estória, que conta as aventuras de Pedrinho na caçada a uma onça. “Estes fazem menção revestida de estereotipia ao negro e ao universo africano”, diz a conselheira que redigiu o documento, Nilma Lino Gomes, professora da UFMG.  Entre os trechos que justificariam a conclusão, o texto cita alguns em que Tia Nastácia é chamada de “negra”. Outra diz: “Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou, que nem uma macaca de carvão”. Em relação aos animais, um exemplo mencionado é: “Não é à toa que os macacos se parecem tanto com os homens. Só dizem bobagens”. O CNE determinou a proibição do livro nas escolas públicas de todo o país.

A Academia Brasileira de Letras reagiu prontamente à tentativa de censura. Em reunião plenária realizada dia 4 de novembro, a ABL se posicionou “contra qualquer forma de veto ou censura à criação artística”. Os acadêmicos também apoiaram o Ministro da Educação, Fernando Haddad, que rejeitou o veto do CNE. Para os membros da ABL, cabe aos professores orientar os alunos no desenvolvimento de uma leitura crítica. “Um bom leitor sabe que tia Anastácia encarna a divindade criadora dentro do Sítio do Picapau Amarelo. Se há quem se refira a ela como ex-escrava e negra, é porque essa era a cor dela e essa era a realidade dos afro-descendentes no Brasil dessa época. Não é um insulto, é a triste constatação de uma vergonhosa realidade histórica”.

Escritores como Ana Maria Machado, Lygia Bojunga, Pedro Bandeira, Ziraldo e outros mostraram-se contra a decisão, que ainda espera homologação do MEC. A Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) divulgou carta enviada ao ministro da Educação Fernando Haddad solicitando que o órgão “defenda o valor da literatura como bem inestimável da cultura humana, não homologando o parecer do CNE”.